“Sou lá do Guarujá, São Paulo. Meu nome é Márcio Cavalari, tenho 33 anos. Faz 3 anos que estou aqui em Londrina, vim pra cá em busca de serviço, mas acabei me envolvendo com bebida, droga, aí tô na rua. Na rua se você andar sozinho, se não andar com as pessoas erradas, nem a polícia mexe com a gente. Eu nem tomo enquadro mais, no início eles até davam geral, mas agora já sabem que eu só peço dinheiro e não roubo ninguém. Na rua também tem muitos traiçoeiros né, a gente tem sempre que arrumar um lugar bem escondido pra dormir, é difícil. A história mais louca que vi aqui na rua foi uma vez ali no posto da esquina, tinha uma mulher com um monte de bicho nas costas, tava comendo ela viva, ela não queria ir pro hospital, e a gente chamou o Samu e eles levou ela. O que mais marcou minha vida foi quando eu tava com minha mulher e meus filhos, a Giovana e o Jhonatan. Eles vivem lá na minha casa no Guarujá. Eu tenho casa, tenho chácara, um monte de coisa, mas eu deixei pra eles por que eu tava bebendo demais, gastando tudo. Até penso em voltar pra casa, mas a assistente social não dá passagem, não consigo arrumar dinheiro. Meu sonho? Eu queria tá bem de vida e nunca mais beber, ficar de boa. Eu queria deixar um recado: nem todos que estão pelas ruas, só porque tá sujo é ladrão né. Muita gente se assusta com a gente mas a gente não precisa roubar, porque a gente fica pedindo, catamos latinha, papel. Tem até uma regra de convivência aqui na rua é para que ninguém fique roubando ninguém pra não estragar o ambiente.”

JP – LONDRINA – SETEMBRO DE 2015

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