“Meu nome é Josiane da Silva Morais, 36 anos de idade, sou pé vermelha. Nasci e vivo aqui. Já trabalhei, pouquíssimo, mas hoje em dia não. Fui diarista, vendedora, baby-sitter. Moro no Conjunto Eucaliptos. Tenho filhos, mãe, pai. Eles moram lá e eu tô na rua. Faz quatro meses e meio. É bem difícil. O que eu faço pra sobreviver? Eu mendingo. É duro, cara. A gente vê o olhar de dor das pessoas. A vida é salgada. Eu tento ter bastante ânimo, pra revigorar a vida das pessoas, não tento transmitir coisa ruim. Eu tento, acordo parecendo um ugubugu, de tanto ficar encardida nas ruas. Meu maior arrependimento é me viciar, primeiro cigarro, depois droga, qualquer coisa que vicia. Até Coca-Cola, se eu quero demais até mordo a língua. Vício não presta. Eu tinha um sonho, de ser aeromoça, quando eu era mais nova. Hoje não tenho mais, se eu tivesse dava pra você. Se teve alguma coisa que me marcou aqui na rua? Não, só um aborto. Meu. Foi recente, tá tudo inchado, ó. Eu sofri, parecia que eu ia morrer, ela caiu, a bolsa estourou, ficou pendurada. Dava pra ver pelos olhos, né, que tava morto, era uma coisa morta dentro de você, mortinha. Diz que tinha cinco meses e duas semanas, tava grandinha já. É ruim ficar falando, parece que a gente vai cair pra trás e morrer junto. A mensagem que eu tenho pra dar é que eu queria que nunca ninguém entrasse nas drogas. Só.”
JP – LONDRINA – NOVEMBRO DE 2015

Compartilhar:

DEIXE UMA RESPOSTA

Please enter your comment!
Please enter your name here