“My name is Elias Geraldo Costa Rosa. Nasci no dia 8 de março de 1964, dia internacional da mulher, sou de Minas Gerais. Meus pais moraram bastante tempo debaixo de um viaduto da Vila Matilde aqui em São Paulo, quando eu era pequeno, daí uns pastores de igreja levaram a gente pra morar num cômodo no fundo da igreja, meu pai era pedreiro. Cresci na rua, passei bastante tempo da infância na rua. Já fui pra Santos trabalhar na região do porto. Conheci uns marinheiros em Santos, aí eles me levo pra Soweto, África do Sul. Fiquei 8 anos lá. Depois fui pra Roterdã, Amsterdã, cheguei até ir pra Nova Jersey. Conheci o Bronx também. Hoje falo inglês, nick name ‘Black Drama’. Toco violão, cavaquinho, guitarra. Sobre o Carandiru, eu cheguei preso lá dia 27 de julho de 84, cheguei no pavilhão nove, era uma coisa muito louca lá, os próprios amigos vendia a gente por um pacote de cigarro. Fui pra rua dez, tive que guerrilhar pra sobreviver. Lá os caras queria te zuar, botar você pra lavar a roupa deles. A situação da rebelião começou com dois caras que desceram do quinto andar, que desceram pra jogar bola e esqueceram de pegar um calção e meião, aí eles voltaram pra buscar, e no segundo andar pegaram os calção de outros caras, aí começou discussão. Tinha dois funcionários que chamavam o pessoal pra ir pro fórum, aí quando os funcionário entrou e viu a discussão, um tentou correr, aí os presos bateu a gaiola, o funcionário ficou em pânico e gritou ‘viro, viro, viro, pânico, rebelião’. Foi aí que começou o tumulto, então, foi uma coisa assim, bem louca, parece que o destino tinha armado aquilo. Eu falo que não morreu só 111, morreu mais de 400. Cento e onze foi que as famílias foi lá procurar. A polícia passava conferindo pra ver quem tava morto. Eu me escondi debaixo de morto para não morrer. Sou sobrevivente do Carandiru, minha mãe orava muito pela gente. Meu maior sonho é fazer um filme com o personagem ‘Black Drama’, eu participei do Pânico na praça da Sé, no quadro ‘My life, my street’, ‘minha vida minha rua’.”

JP – SÃO PAULO – AGOSTO DE 2015

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