“Meu nome é Roseni de Fátima Martins Francis, eu sou daqui de Curitiba, mas vivi muito tempo em sítio. A minha família era grande, mas, graças a Deus, meu pai nunca deixou faltar um prato de comida em casa. Minha mãe teve tétano e teve que amputar a perna, mas mesmo assim ela carpia e fazia os serviços de casa. Meus pais eram bem de vida, foi quando minha mãe amputou a perna que eles gastaram muito.
Eu comecei a trabalhar muito cedo, com 13 anos eu já era babá, cuidava de duas crianças e fazia a limpeza de uma casa de família. Meus irmãos brigavam muito, o mais velho morreu em acidente de carro, mas tem história que mandaram atropelar ele, ele morreu em 1975, com 19 anos. Ai três anos depois minha irmã morreu grávida, assassinada pela amante do marido dela, uma facada no coração, tirou duas vidas, ela tava para ter bebê. Ela morreu em agosto de 78 e nós ficamos sabendo só em primeiro de fevereiro de 79, ela ainda foi estuprada com 15 anos. Eu era muito ligada ela.
Com 16 anos eu conheci um rapaz e engravidei, e ele disse que iria me levar embora para o Mato Groso, eu não quis, ele sumiu. Eu olhei pra cima e falei: Deus, tanta gente querendo filho e eu vou ter, mãe solteira. Ai um dia eu tava no ponto de ônibus e vi o pai do meu filho lá, ele me disse: oi baixinha, vou lá na sua casa conhecer seus pais. Foi a fé da minha mãe que fez ele me encontrar. Quando o nenê nasceu ele ficou que nem doido, mas não ajudava em nada. Um dia fui conhecer a família dele, família bem de vida, mas a mãe bebia muito. Depois fomos morar juntos. Tive mais um filho dele e fui trabalhar como diarista. Mas passou um tempo e fiquei separada dele. Fiquei mãe solteira e tinha dois trabalhos, me deu depressão e internei num hospital psiquiátrico por 4 meses.
Depois disso minha mãe me levou para o sítio de novo, lá conheci um rapaz e comecei a namorar ele, engravidei de novo. Esse rapaz, que era pai do bebê, viva bebendo, na roça, os bois que traziam ele para casa. Voltamos para Curitiba e separamos, nessa época eu vendia queijo, meu irmão trazia o queijo e eu vendia.
Minha terceira filha, o pai dela deu ela, vi ela esses dias, ela veio me buscar de moto e chorei, chorei, chorei. Tive uma quarta filha, o pai dela bebia e batia em mim, me ameaçou de faca já, essa menina vivia no hospital, tinha refluxo. Graças a Deus ela sarou. Com esse, eu ainda tive mais um filho.
Mas minha vida está melhor, graças a Deus. Hoje to com um homem que me dá de tudo, meu marido tem 80 anos e é guarda municipal aposentado. Ele não quer que eu trabalhe, mas eu gosto de ter meu dinheirinho. Hoje minha vida está bem, graças a Deus.”
JP – CURITIBA – JULHO DE 2015