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Luis Cláudio Coelho

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“Sou Luis Cláudio Coelho de Souza, mais conhecido como ‘Carioca’, vou fazer 48 anos dia 16 de outubro. Às vezes eu tenho até medo, vergonha de falar minha história, mas eu vou falar pra vocês. Eu sai do Rio de Janeiro porque fui traído pelo meu irmão, eu peguei ele e a mãe dos meus filhos na cama. O que você faria se pegasse seu irmão com sua mulher na cama, você estando armado? Eu coloquei os dois pra correr pelados pela rua. Vim parar aqui em Londrina porque conheci uma menina que estava grávida de gêmeas, nesse mesmo dia eu fui roubado, me levaram R$12 mil reais, que eu tinha, eu estava conhecendo o Brasil. Cheguei falar para o ladrão, deixe meus documentos e ele ofereceu uma bala. Ainda bem que me deixaram vivo, e hoje estou aqui falando com vocês. Estou tentando dar a volta por cima de novo, mas a sociedade não permite, não aceita e não vê com bons olhos, porque não me conheceram no passado. Tudo que eu tive, tudo que vocês têm hoje é Deus que empresta pra vocês cuidar.
Eu já tive tudo, casa de dois andares, dois carros na garagem e uma moto, e hoje estou dormindo na calçada.
Vai fazer 7 anos que vivo aqui nas ruas de Londrina. A rua tem seus benefícios, fome aqui nós não passamos, porque todo dia vem uma alma, vem um vaso, vem uma igreja e traz um alimento pra nós. As dificuldades de viver na rua são as covardias e a indiferença, porque o londrinense tem um bom coração, mas tem a mente poluída, desculpa, e não aceita que eu fico sentado aqui fazendo meu trabalho, cuidando de carro, mesmo agradecendo em nome de Jesus, eles não aceitam, eles olham para nós com indiferença. Não olhe o teu próximo de cima pra baixo, olhe nos olhos. No meu dia-a-dia eu sou feliz, coisa que talvez você não seja, mas eu sou feliz por receber um sorriso de alguma pessoa, apenas. O que eu preciso pra eu ser feliz é isso aqui, ter aqueles amigos sentado ao meu lado bebendo pinga comigo, pra mim hoje é suficiente, mas não aceito isso pra mim e eu vou sair da vida que estou vivendo agora, quarta-feira eu vou me internar.
Quero voltar a ter um trabalho, uma casa e uma família denovo, esse é meu sonho, isso eu clamo e peço sempre. Pretendo voltar pro Rio, ver minha mãe, ver meus filhos, meus netos, meus irmãos, tenho 3 filhos e tinha 4 netos quando eu sai de lá.
Faz 10 anos que não vejo minha família. Tenho muita saudades da minha família, mas não quero voltar da maneira que eu estou. Eu até pedi pra eles não me procurarem, e que no momento certo eu voltarei para eles.
Vocês que vão ler essa história, não olhem com indiferença para aqueles que está na rua, respeite-os porque eles dão respeito a vocês. Olhe para mim como um igual a vocês, porque a indiferença causa morte.”

JP – LONDRINA – AGOSTO DE 2015

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