“A minha história de vida é o seguinte: eu venho de uma família boa. Meu pai é gerente aposentado do banco do Estado. Comecei a faculdade e parei. Terminei três casamentos. Tudo em função do uso e abuso de drogas. Minha historia não é diferente de muita gente, não. A gente costuma dizer que só muda o personagem. A historia é a mesma. Minha família foi tentando ajudar. Tenho mais de quarenta internações, entendeu? Até que chegou um ponto que a família abriu mão. Já não podia fazer mais nada. Aí fui pra rua mesmo. Vez ou outra tentava voltar pra casa dos meus pais. Depois que terminei meus casamentos. Ficava bem por um tempo. Daí não conseguia manter a fissura. Saía de novo. Ficava meses e meses fora. Dia 13 agora [fevereiro], foi numa sexta-feira, meia noite e meia, minha mãe faleceu. Fiquei sabendo só na segunda-feira. Aí meu pai teve um AVC tem cinco anos. Ficou na cadeira de rodas e foi morar com minha irmã. E eu tô sozinho aí.

Meu nome é Laerte Pedrão Junior. Acho que já tem uns dois anos já que tô na rua de uma vez. Eu vim pra Londrina com uns dez ou onze anos de idade. Tô com quarenta e dois. A vida na rua é o seguinte: não é nada fácil. Como a gente costuma dizer, muita ‘piolhagem’. Se você marca com alguma coisa o cara vem e toma. Você não pode ter uma parada fixa. Deixar sua mochila com teus pertences e se ausentar um pouco. Faz parte, né, cara. Durmo embaixo de pontilhão, embaixo de marquise. De vez em quando pessoal de igreja passa e dá um marmitex. De vez em quando a gente garimpa alguma coisa no lixo que nem eu fiz agora. Tem uns pão embolorado, tirei o bolor com a faca. Achei mortadela, tinha um pedaço embolorado, cortei fora. A gente vai levando, né, cara. Acaba se tornando como diz: um estômago de avestruz. Se um filhinho de papai comer o que a gente come por aí, vai pro hospital na certa.

E eu não me orgulho de nada do que eu tô falando. Infelizmente foi escolha minha. Fiz um pouco menos de um ano de Direito. Tinha terminado meu primeiro casamento. Aquela euforia, né, dinheiro no bolso, carro bom. Só festa na faculdade. Sonho? Nenhum. Já foi a época de sonhar. Espero conseguir me abster das drogas, voltar ter relação com minha família. Poder tá vendo meu filho. Quando minha mãe tava viva, ela era o elo de ligação pra vez ou outra eu tá vendo meu filho. Minha ex mulher vinha de Ibiporã visitar minha mãe, eu usava ela como esse elo de ligação pra ver meu filho e meu pai. Mas agora acabou, né, cara. Agora acabou.”

JP – LONDRINA – FEVEREIRO DE 2016

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