“Meu nome é Jovercy Julião, tenho 54 anos. Eu sou de Minas, me criei no norte do Paraná, mas fazem vinte anos que eu tô aqui em Curitiba. A vida aqui é muita correria, ninguém tem tempo para nada, aqui não dá tempo de fazer amizade, lá no norte todo mundo é amigo, todo mundo faz amizade. Sou lá de Ivaiporã, região de Maringá. Aqui tudo é muito corrido, faz vinte anos que eu trabalho aqui na rua. Do jeito que eu vim de lá, eu estou aqui, só nesse pedacinho da Boca Maldita, estou há oito anos. Você vê de tudo aqui cara, vê ladrão, cara roubando, cara brigando, mas a coisa que mais me impressionou foi ver um piazinho que foi atropelado, um ônibus passou em cima dele, eu fiquei uns par de tempo com isso na cabeça. Cheguei nem dormir direito. Moro eu a mulher e três filhos, a mais nova está com vinte anos, mas graças a Deus todo mundo trabalha. Eu moro numa casa própria em Piraquara. A gente sofreu muito na roça, hoje tá muito melhor, quando eu vim para cá eu vim com a mulher e um saco nas costas, agora tenho meu carrinho e minha casinha. Tenho três casinhas alugada no mesmo terreno, graças a Deus, a minha vida eu construí aqui. Eu tô querendo aposentar daqui um tempo, meu sonho é minha aposentadoria, aí eu vou trabalhar para mim mesmo. A gente como gari é tratado como mendigo na rua sabe, teve um dia que eu tava indo embora pra casa, na chuva, eu dei um dinheiro para um mendigo na rua e uma mulher viu e disse: olha só o lixeiro dando dinheiro pro mendigo. A gente aqui na rua somos invisíveis, as pessoas só nos enxergam quando precisam de informação. O povo vê a gente com essa roupa assim né…”

JP – CURITIBA – JULHO DE 2015

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