“Meu nome é José Pinto de Oliveira, eu tenho 60 anos. Sou nascido em Assaí, cidade de japonês. Você passa o pedágio, entra à direita, tá em Assaí. Desde 76 eu moro em Londrina. Fui morar com minha tia em Interlagos. Ela falou ‘vou arrumar serviço pra você, é trabalhador’. Comecei com um cara que faz esses cobertor, barracaozão grande. Trabalhei no Lopes [atual Transportes Coletivos Grande Londrina] e na Viação Garcia. Entrei num outro emprego, negócio de soldar. Saí do serviço porque tavam embaçando comigo, aí fui pra Jataizinho, plantar algodão lá. Consegui comprar casa em Londrina, no Jardim Meton. Naquela época não tinha favela por lá, só tinha chácara. Hoje eu tô no Santo Amaro, em Cambé, na casa do meu irmão. Por causa desses gorozinho de vez em quando eles têm mania de me internar. Esses tempos me levaram pra Toca de Assis, eu saí de lá. Se der um jeitinho, eu passo. Internar contra a vontade não. Rapaz, teve uma vez, eu não lembro onde, eu tava andando, um caminhoneiro parou, trouxe comida, bebida, aqueles litrão bonito, deu dinheiro… Eu falei: ‘não, você já deu tudo, o que eu vou fazer com o dinheiro agora? Rasgar? Não sou louco’. Pus tudo numa sacola, voltei pra casa e minha mãe viu os litrão. Ela falou ‘Deco, vou derramar tudo essa bebida no lixo’, e eu falei pra ela que podia jogar, e se quisesse colocar fogo também. Trabalho de latoeiro de carro, é um trabalho pesado. Já tentei montar oficina, mas nunca consegui. Falta juízo, minha memória é meio atrapalhada, mas é meu sonho.”

JP – LONDRINA – SETEMBRO DE 2015

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