“Tô no Renato [Casa de Sucos e Vitaminas] faz nove anos já. Meu nome é Adriana Araripe Betim. Aqui nessa Rodoviária tem cada doido. Antes eu vinha mais cedo, a partir das sete, pra servir os clientes. Agora que tenho esse problema na mão, tendinite, eu entro mais tarde. Fico até às quatro, cinco da manhã, só fiscalizando. Também já trabalhei na Casa da Cachaça, no Serasa, tudo trabalho pesado. Deve ter a ver, né, o médico diz que é de serviço repetitivo. Que nem, nessa mão não tenho mais força, se for espremer laranja dói muito. Não tem cura, é crônico. Não posso cozinhar, preciso da ajuda da minha filha pra preparar a comida. Esse celular também, nem sei mexer muito, quem mexe é o meu filho. Ele sempre vem comigo. Se fica em casa, não dorme até a hora de eu chegar, então eu trago. Ele fica quietinho, num canto com o celular, perto da tomada. Esse tem sete, a outra é mais velha e trabalha com o Renato também. Quando eu tinha sete anos, meus pais se separaram, e fui morar com meu pai. Com dezesseis, fui morar com o pai da minha filha, e anos depois com o pai do meu filho. Hoje eu tô separada, tenho 34 anos. A minha sorte é que meu patrão me ajuda bastante, ele e a esposa, só tô com esse serviço pra criar os dois. Queria dar uma vida melhor pros meus filhos, deixar o aluguel… Depois que aconteceu esse probleminha na minha mão desanimei muito. Depressão? Quase. Penso muito neles pra superar tudo isso, porque senão acho que eu já tinha desanimado de vez.”