“Na pipoca, estou há 25 anos. Meu nome é Vicente, tenho 74 anos. Aqui em Apucarana, fui criado no distrito de Pirapó, mas nasci em Cambé. Vim com um ano para cá, aqui era tudo mato, meu pai comprou um sítio aqui embaixo, aí eu fui criado ali. Daí eu casei, peguei, fui para Manjuruba, depois fui para Borrazópolis, trabalhei cortando dez alqueires de mato ali. Tenho 7 filhos, fui criando eles trabalhando na roça, plantação de feijão, milho. Tô desde 77 em Apucarana, trabalhei 17 anos na Antártica. Eu tô meio doente, cai de bicicleta e quebrei o pé. Não sarou até hoje, tô sofrendo com essa perna. Em arapongas, um médico disse que eu tinha que arrancar a perna fora, falou para eu ver com a minha família que eu tinha que cortar a perna, eu falei: tá bom. Eu vim embora, eu disse: Eu? Eu vou cortar perna nada, com duas pernas já não está bom, imagina com uma só. Um médico aqui de Apucarana me fez outro tratamento, sarar, não sara, mas vai melhorando. Tá com 15 anos que eu perdi minha mulher, ela teve problema de bronquite, ficou três dias de cama, foi o suficiente para levar ela daqui. Tem muito sonho da minha vida né, mas a gente vai ficando velho e fica difícil né?! Queria acabar minha casa, mas não sobra dinheiro, tá chovendo em casa, falta trocar o telhado, não tenho dinheiro para trocar o telhado. Nunca tive um carro, nunca tive um dinheiro para sobrar no banco, sempre pelejando. Minha vida sempre foi trabalhar, nunca quis pedir um real dos outros, nunca pedi dinheiro. Meu pai nunca dava dinheiro para gente, era só trabalhar e trabalhar, meu pai era danado. O que mais me marcou é só fui umas duas vezes no cinema, teve uma vez que um colega meu me chamou para ir com ele, eu não tinha dinheiro, ele me disse para ir pedir para o meu pai, a gente trabalhava o dia inteiro, eu disse que não ia adiantar eu pedir para o meu pai, ele não dá. Aí eu peguei e fui falar com ele, se ele podia me arrumar 80 centavos para eu ir no cinema, ele ficou bravo, quase bateu em mim. Meus amigos disseram que não tinha problema, que a eles arrumavam. A turma me deu 50 centavos e um vizinho me deu mais 30. Foi uma das únicas vezes que fui no cinema, vi um filme do Mazzaropi.”

JP – APUCARANA – AGOSTO DE 2015

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