“A vida aqui na rua? É horrível guri. Eu fazia aquelas coisinha, da barraquinha. Cestinha, tricô, crochê, pra vende. Não tenho filhos. Eu queria ver a televisão certa filho, pra mim poder me virar. Porque se eu não ver televisão certa eu não vou poder me virar. Sempre recebo uma ajuda ou outra. Meu nome é Telma, Telma Aparecida. Acho que tenho uns 40 anos, 45. Eu não sou daqui. Sou de Guarapuava. Faz anos que estou aqui. Eu trabalhava nas casas, diarista. Tô aí, naquela coisa do CAPS. Já fiz tudo. Tô aí na rua. Mas a minha vida é ficar certa. Já terminei o CAPS, fiz tratamento de psicologia, com uma moça lá. Tô aí pra ficar certa. Eu faço dízimo também, na igreja. Não, mas eu não tenho história. Não vi nada, só correria atrás do dinheiro. Meu sonho é casar com um homem bem rico, cheio de herança, hahaha. Um velhinho aposentado, cheio de dinheiro, não é mesmo? Já ia me tirar da parada aí. Quando eu era menina só gostava de homem de barba. Não gostava de piá da minha idade. Só de homem mais velho. Ah, os piá brincava na rua. Estudei até o quarto ano. As professora era muito braba. A matéria que eu mais gostava era linguagem. O tempo passa né guri? Parei de estudar porque eu tinha preguiça de estudar, a professora era muito ruim. Acho que ela brigava com marido dentro de casa, tinha aquele problema né? Brigava com os alunos.“
JP – CURITIBA – OUTUBRO DE 2015