Pacificar o quê?

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Foto: Reprodução. Autoria: Marcelo Camargo (ABr)

“Como eu prego muito a pacificação, imaginei que a sabedoria política determinaria que ele [Lula] dedicasse os 580 dias na prisão à unidade do País. Ele ganharia politicamente. O Brasil também ganharia. Mas ele radicalizou.” As declarações são de Michel Temer, o ilegítimo, ao jornalista Pedro Wenceslau ao Jornal O Estado de São Paulo, edição de ontem.

Na mesma entrevista, Temer – que chegou à Presidência da República após conspirar e trair Dilma – para implantar o programa “Ponte para o Futuro”, projeto que não foi eleito em 2014, ainda disse. “O governo [de Jair Bolsonaro] vai bem porque dá sequência ao que eu fiz.” Analisemos as falas de Temer.

i) Ele diz que prega a pacificação. E o que é isso? Pacificar o quê e para quem? A política é a arte da negociação e os conflitos gerados por interesses diferentes são da natureza humana. Pacificar aqui é fazer um lado aceitar os interesses do outro? Pacificar é fazer o trabalhador aceitar bovinamente a destruição dos direitos trabalhistas e previdenciários? Pacificar é fazer o cidadão brasileiro assimilar o corte de investimento no SUS, na educação, na assistência social, na cultura e no meio ambiente?

ii) Um país não tem uma unidade. Tem várias. Veja que o governo (ilegítimo) de Temer começou e o governo de Bolsonaro aprofundou, por exemplo, as medidas de desmantelamento da organização sindical. O objetivo é asfixiar os sindicatos afetando sua sobrevivência a partir da redução de arrecadação de recursos dos filiados. Essas medidas afetam principalmente sindicatos de trabalhadores. As organizações patronais foram bem menos afetadas. Não adianta falar em unidade se o governo trabalha para sufocar setores inteiros, como o sindical. Setores que a elite odeia.

iii) Qual a radicalização de Lula a que Temer se refere? Lula é um conciliador e nunca foi revolucionário, nunca propôs rupturas. Tanto que conciliou os interesses do empresariado, que não perdeu um centavo nos governos petistas, com a inclusão social. Seus governos foram de conciliação, com todos os erros da política econômica de inclusão pelo consumo, acordos políticos por puro pragmatismo. E, mesmo assim, Lula é vítima de perseguição por setores que ajudou a fortalecer (judiciário, MPF, PF e mídia).

iv) O governo Bolsonaro dá continuidade ao governo de Temer. Isso é verdade. Bolsonaro reduz as garantias trabalhistas, aprofunda a precarização do trabalho, ataca a política de aumento real do salário mínimo e corta investimentos nas áreas sociais. Bolsonaro se comprometeu com a elite financeira do país, assim como Temer. Ao povo, corte e redução. Simples assim.

v) Cortar direitos e benefícios era o objetivo ao derrubar Dilma, com o pretexto das pedaladas fiscais. Nunca foi por austeridade nem pelo combate à corrupção. Bolsonaro radicaliza as medidas começadas por Temer, mas essa radicalização não é problema porque beneficia os setores da elite de sempre, que vivem de especulação financeira, ou seja, do capital que concentra de riquezas para a minoria e aumenta a pobreza para a maioria.

Então, apelar para a pacificação e a formação de unidade, quando as medidas beneficiam os privilegiados de sempre, é usar um discurso recorrente – o da união, que ferra sempre os mais fracos. Não há unidade quando apenas um lado – o da elite – ganha. A massa tem de deixar de ser dócil. Portanto, por mais lideranças – comunitárias, sindicais, políticas, de artistas – que radicalizem pela democracia, pela cidadania, pelos direitos dos segmentos vulneráveis. A radicalização aqui é pela própria sobrevivência.

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