Reprodução Folha de Londrina

“Por uma igreja sem partido.” Com esse mote, um movimento chamado Brasil Católico (seja lá o que isso signifique), instalou um outdoor em Londrina exigindo que se “Tirem o PT do altar”. O alvo é o arcebispo Dom Geremias, que se identifica e defende causas populares. Sob a sua liderança, foi divulgado meses atrás um manifesto contra a reforma da Previdência. Pelo visto, defender direitos do trabalhador é coisa de petista.

A perspectiva deste artigo, no entanto, não será o ódio da ala conservadora da igreja aos setores progressistas que lutam por uma sociedade mais justa, menos desigual. Pelo senso comum, isso parece coisa de comunista, mas é um princípio cristão – adjetivo que vem de Cristo. Pena que o tal Brasil Católico parece não se incomodar com a desigualdade social, que gera pobreza e faz a manutenção de miseráveis país afora.

Para atacar o Partido dos Trabalhadores (PT), o movimento por trás do outdoor londrinense defende uma igreja sem partido. Se especificasse que se trata sem partido político cumpriria o papel a que se propôs, mesmo que no fundo se identifique com siglas conservadoras, ou seja, agremiações do campo ideológico da direita. Nem precisa fazer campanha com esse mote.

Com esse outdoor, o tal Brasil Católico joga o debate na vala comum de criminalização da política partidária. Ninguém é obrigado a ter atuação partidária, mas também não se deve criminalizá-la, porque o sistema de representatividade passa, obrigatoriamente, pelos partidos políticos. Inclusive, a filiação é um direito de qualquer cidadão. Se o sistema é ruim, deve-se lutar para melhorá-lo.

Ao fazer apologia a “uma igreja sem partido”, o movimento contra Dom Geremias, ao mesmo tempo, despolitiza e politiza o debate político. Ou questões como saúde, educação, cultura, desenvolvimento econômico, justiça social e fiscal, reformas trabalhista e previdenciária, por exemplo, só interessam a militantes partidários?

A despolitização ocorre com a negação da política, mas ao fazer isso o movimento toma partido, levando à politização. Fiéis católicos quando exigem “uma igreja sem partido” tomam partido o tempo todo. Vale perguntar qual partido essa gente se associa, já que não existe neutralidade, um valor vazio vendido como modelo perfeito. Engana-se quem quer ser enganado.

Qual partido você toma? O do agronegócio que desmata e intoxica a produção de alimentos ou o do modelo sustentável de produção com respeito ao meio ambiente? A saúde e a educação públicas de qualidade ou a privatização dos serviços públicos dificultando o acesso a direitos fundamentais? Os direitos ou a precarização do trabalhador? O combate à desigualdade ou a concentração de renda? O direito à moradia ou à especulação imobiliária? O direito à terra ou a concentração da propriedade?

Os exemplos são muitos e há quem diga que não é necessário posicionar-se aos extremos (à direita ou à esquerda), podendo escolher uma posição mais equilibrada (ao centro). Posturas moderadas também são do jogo político e fazem parte de uma tomada de atitude, anulando o discurso “sem partido”.

Portanto, o problema não é tomar partido, não é assumir uma posição, não é ter postura. A questão central, que deve nortear o debate, é qual partido as pessoas tomam e quem ajudam e prejudicam com isso. O resto é interpretação, temperada com pitadas de ódio que geram divisão e, portanto, exclusão. E quem ganha com isso?

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