Em todo esse debate sobre imaginário político, o mito da idade do ouro é o mais constante e o mais presente nas mitologias políticas. Há muitas variações, mas a noção geral é aquela que estimula uma nostalgia dos “bons e velhos tempos” do passado, que contrastam com os costumes corrompidos do presente.
Alguns desses tempos antigos foram de fato vividos pelos saudosistas. A questão é que a memória não registra tudo de forma homogênea. Ela se esquece, seleciona, amplifica detalhes sentimentais insignificantes ou simplesmente apaga aquelas lembranças mais inconvenientes.
A memória pessoal nunca é um registro amplo e fiel da realidade. Mas na maioria dos casos, esses “bons e velhos tempos” evocados nos discursos políticos não pertencem mais à memória pessoal de ninguém. Eles são literalmente idealizados a partir de referências sempre fragmentárias da história.
É natural que os sofrimentos e as angústias inevitáveis que vivenciamos necessariamente no presente acabem contrastando com essa imagem idealizada de um passado feliz e perfeito. De um jardim da infância da humanidade.
E quanto maior a sensação de tristeza ou de decadência do presente, mais o passado é imaginado como repleto de glória. E o resultado é que a representação desse tempo ancestral se torna um mito.
Nos tempos atuais, marcados pela novidade constante e pela velocidade das mudanças, a imagem de um passado paradisíaco parece ainda mais sedutora. Os próprios objetos antigos chegam a inspirar uma espécie de devoção ao passado.
Isso atinge os jovens também. A moda retrô, a estética vintage, todos esses elementos são indícios significativos do empenho das novas gerações em vivenciar magicamente um passado idealizado. E isso também ocorre na política, quando amplificamos ou mesmo fabulamos as qualidades de um sistema social do passado.
Inscreva-se http://bit.ly/canaldoAndre
Confira a playlist da série: Mitos e mitologias políticas