Dissonância Cognitiva: e quando os próprios espectadores manipulam as informações das mídias?

Comunicação, tecnologias e educação

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No começo do século passado muitos cientistas imaginavam que os meios de comunicação controlavam as pessoas e ditavam o que elas deveriam fazer. Como se os meios os comunicação fossem uma agulha que injetasse uma substância que controlaria os nossos desejos e as nossas opiniões.

Mas no decorrer do desenvolvimento das Teorias da Comunicação, cientistas perceberam que, muitas vezes as percepções que temos das mensagens das mídias são distorcidas, por nós mesmos. Ou seja, a manipulação não se dá apenas nas mídias.

O nosso cérebro também manipula as informações que chegam até nós. Então, até mesmo fatos “simples e objetivos”, podem ser distorcidos inconscientemente pela nossa imaginação, no nosso esforço para confirmar aquilo que a gente já acredita, ou para negar uma mensagem incômoda. Isso se chama “viés cognitivo”.

E a gente faz isso o tempo todo. O viés cognitivo é em muitos casos um fenômeno muito eficaz e saudável, porque as pessoas não conseguem lidar com o processamento de todas as mensagem que chegam até nós.

Imagina se a gente estivesse consciente o tempo todo de cada detalhe de cada um dos nossos cinco sentidos? Seria inviável processar tudo! Por isso, é bom que nossa mente tenha sido programada para fazer inconscientemente todas estas decisões de processamento. Então, às vezes a gente imagina que o viés cognitivo trás limitações para nossa percepção.

Mas pesquisadores argumentam que a gente pode interpretar esses mecanismos como atalhos cognitivos. A gente não precisa reunir 100% das informações que chegam até nós a cada instante através dos cinco sentidos. Então a gente ignora grande parte desses estímulos, cria um atalho e acelera o processamento de informações.

Uma das teorias mais conhecidas sobre vieses cognitivos que as Teorias da Comunicação importaram da Psicologia tem a ver com a teoria da dissonância cognitiva. Dissonância cognitiva é uma teoria da psicologia que explica como as pessoas lidam com sentimentos conflitantes.

A dissonância cognitiva propriamente dita é uma tensão que ocorre quando uma pessoa tem duas opiniões, ideias, crenças ou atitudes que são psicologicamente inconsistentes. É aquela moral dupla que ocorre quando a pessoa diz uma coisa e faz outra. A maioria das pessoas tem uma auto avaliação muito positiva de si mesmas.

Em geral as pessoas se acham muito boas, muito certas, competentes, inteligentes, éticas, espertas. E até por isso se sentem muito à vontade para concluir que o errado, o mal é sempre o outro. Ela não. E aí um dos mecanismos psicológicos para que a gente possa preservar essa autoimagem é simplesmente deixar de enxergar aquilo que nos desagrada, que contraria a nossa visão de mundo, para que a gente não precise lidar com informações que questionam os nossos comportamentos e as nossas convicções.

Em termos simples, é o ato de inventar desculpas para os nossos defeitos e enganar a si mesmo para continuar errando sem se sentir mal por isso. O exemplo clássico de dissonância cognitiva é a fábula da Raposa e as Uvas. Que todo mundo conhece. Uma raposa estava morrendo de fome e viu algumas uvas penduradas no alto de uma videira.

Ela fez de tudo para tentar pegar a uva, mas não consegue. Aí ela desiste e resolve ir embora falando assim: Ah, essa uva nem estava madura! Deve estar ruim, azeda. E moral da história é clássica: “As pessoas que menosprezam coisas que eles não conseguem alcançar fariam bem em aplicar esta história para si mesmas”. Para fazer uma autocrítica.

Vale a pena se informar melhor sobre a dissonância cognitiva. Eu não sou psicólogo, e por isso eu falo da perspectiva das Teorias da Comunicação, até porque o objetivo desse vídeo é falar sobre os fatores que fazem com que as pessoas interpretem as mensagens das mídias de forma distorcida. Ou seja, quem emite a mensagem não tem todo o controle sobre a forma pela qual a mensagem vai ser recebida e interpretada.

As pessoas deturpam, pegam os elementos que interessa, enfatiza aspectos que não são essenciais. Mas eu sei que estudar um pouquinho sobre essa teoria pode ajudar muito na nossa autocrítica, e consequentemente, ajudar muito também no nosso próprio posicionamento crítico em relação às mídias.

É igualzinho aquela metáfora do menino que quer melhorar o mundo mas não consegue nem arrumar o quarto. Se a gente quer entender a realidade, o primeiro passo e tentar entender a si mesmo. Quem faz muita crítica e pouca autocrítica, quem acha que está sempre certo enquanto o outro está sempre errado, esse tende a fazer muito estrago, imaginando que está ajudando.

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