Tango rasga o coração. “Ninguém passa ileso por uma peça de teatro”, dizia a dramaturga e encenadora Nitis Jacon, que criou o grupo, em 1978: Tango, de Slamovir Mrozek, que o PROTEU levou ao palco do Teatro Ouro Verde, nos dias 3, 4 e 5 de maio, volta à cena dias 28 e 29 de agosto no FILO 50+1.  Aplausos. A história do FILO – Festival Internacional de Teatro de Londrina – se confunde com o grupo que lhe deu vida.

PROTEU parecia inerte há 20 anos. Mas não. Feito o mito grego marinho, feito cobra de vidro, havia se epalhado. Havia espelhado propósitos éticos e estéticos em cada artista gerado no útero do Projeto de Teatro Experimental Universitário da UEL. Tango nasceu do desejo da atriz do PROTEU e produtora Maria Fernanda Coelho, aprovado pelo PROMIC – por meio do projeto de Jacquelina Almada  – com apoio e dedicação de integrantes do PROTEU e de novos atores convocados para o tablado icônico dos que criaram o movimento teatral de Londrina.

William Pereira, que dirige teatro e ópera, participou do grupo nos anos 80. Foi chamado para encenar a aventura e indicou Tango como continuidade de Um trágico acidente, de Carlos Queirós Telles, montagem provocativa de Nitis Jacon.  No “textão”, como nos velhos tempos, Mrozek compõe uma tragédia em três atos. Tango mostra uma família atolada no lixo moral e ético com a pretensão de manter “a pátria acima de tudo e Deus acima de todos”. Mas, a que custo? Muito atual, embora escrito na Polônia de 1964. A peça mostra o turvelinho do tempo que se repete.

Encenado nos tempos de chumbo no Rio de Janeiro (1972) por Tereza Rachel, com direção de Amir Haddad, Tango foi transcriado e adaptado por  William especialmente para o PROTEU, a partir de um processo de criação delicado, ao cotejar a tradução francesa de Albin Michel e a inglesa de Ralph Manheim e Teresa Dzieduscycha.

O PROTEU se reuniu em março de 2019. Em menos de um mês o espetáculo estava desenhado. Na assistência de direção José Cláudio Rodrigues. Direção técnica e iluminação de Raquel Balekian. Operando o som Paulo Castro. Cenografia do próprio encenador e de Gelson Amaral. Cenotécnica sob a responsabilidade de Igor de Castro Santos e Jeniton da Silva Stein (Coringa). Silvio Ribeiro fez a preparação vocal. E o figurino recebeu o traçado de Nélio Pinheiro. A trilha sonora, também assinada por William remete a memórias emotivas de um tempo que todos acreditavam ultrapassado. Jimi Hendrix, Chopin, The Doors, Verdi, Ray Coniff, Mendelsohn, Wagner e Gerardo Matos Rodríguez são chamados a emoldurar o trabalho impecável dos atores, cujos nomes estão nas legendas dos flashs de camarim.

Quinze dias antes da estreia o companheiro Remir Trawtvein bateu asas para outra dimensão.  Mas o PROTEU aprendeu com Nitis Jacon, há 40 anos, o significado das palavras responsabilidade e determinação. E mais: a cultura acima de tudo e o propósito de despertar reflexão sobre outras possibilidades de existência, que não as impostas pela falsa democracia. Mesmo com o coração rasgado, como num tango, o PROTEU subiu ao palco e brilhou em nome de todos que fizeram parte desta trajetória, que segue viva. Viva!

proteu

Uma história para se orgulhar

Com exceção de JENNIFER – O AMOR É MAIS FRIO QUE A MORTE de Randy Buck, em 1995 e 1996, com tradução de Rodrigo Paz e direção de Roberto Lage, todos os trabalhos do grupo foram dirigidos pela firme estética de Nitis Jacon.

1978  – MOMENTOS DE CASTRO ALVES – Roteiro de Nitis Jacon

1979  – EU CHOVO, TU CHOVES, ELE CHOVE … ( infantil, de Sylvia Ortof)

CALABAR, O ELOGIO DA TRAIÇÃO (Chico Buarque e Rui Guerra)

1980 – MACUMBA CÍVICA Colagem de Textos, Poemas e Músicas

Remontagem com o Grupo GRUTA de Arapongas e PROTEU

Projeto de Pesquisa O ÍNDIO DO PARANÁ, UEL/FUNARTE

Fundação Nacional de Artes, consultoria de Darcy Ribeiro

1980/81 e 82  – NA CARRÊRA DO DIVINO,  de Carlos Alberto Soffredini

1981/ 82- UM TRÁGICO ACIDENTE, de Carlos Queirós Telles

A BUSCA DO COMETA  (infantil, de João das Neves),

1983  – Vídeo MARIA MUTEMA em conjunto com NTE –

Núcleo de Tecnologia Educacional da UEL

1983/84 – SALTO ALTO, de Mário Prata

1984  – Lançamento da Campanha DIRETAS JÁ em Londrina – Interferência e Vídeo

1984/85 – BODAS DE CAFÉ, de Nitis Jacon

1985  – BARBA AZUL Um Conto de Fodas,  Adaptação de Nitis Jacon

O TRABALHADOR E A CONSTITUINTE

A MULHER E A CONSTITUINTE

O ÍNDIO E A CONSTITUINTE

TRANSGREUNTE ASCENDENTE AQUÁRIUS  –  UMA TRAGÉDIA, de Nitis Jacon

1986/ 87- A PESTE, de Albert Camus –  Adaptação de Nitis Jacon

1987  – Remontagem de BODAS DE CAFÉ

1987/ 88/89 – ZYDRINA –  Pesquisa e criação de texto do Grupo PROTEU – Assessoria Alfredo Coello

1990/91-  TEMPO DE LOUCOS E BUFÕES, de Andrés Recio Beladiez (tradução e adaptação de Nitis Jacon)

1991/92 – TERRA DO NUNCA – Concepção e roteiro de Nitis Jacon e Maria Fernanda Coelho

1993/94 – CARMELITA ADEUS –  Concepção de Nitis Jacon

1994/95- Remontagem de BARBA AZUL –  Um Conto de Fodas 

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