“Meu nome é Edson Luiz Boska. Tô com 50 anos. Eu sou natural de Campo Mourão, fui criado na vida dos antigos. Tô catando reciclagem, vivendo a minha vida assim, e depois eu peço, pra quem puder, me ajudar. Esses jogos aqui peguei numa casa, tava pra reciclagem. Vou doar pra alguém, ou levar no Centro POP. Não quero maldade com ninguém, não quero! Ô meu irmãozinho, a vida dá tanta coisa boa pra gente, véi, a natureza dá tanta coisa pra comer, pra beber. Por que essa turma tem que fazer tanta maldade? Ó, pra você ver, a quantidade de facada que levei: 17. Mas eu sempre tô na presença de Deus. Menino, a minha vida, já que vocês foram bom em ajudar, eu peço que me perdoem… Só descobri a Jesus quando ele me deu a salvação. Eu perdoo todo mundo, perdoei até o cara que me esfaqueou. Sou conhecido na área como Nezão. Depois eu viajei pelo sertão, aí fui conhecido como Jagunço. Já troquei muito tiro com capataz, mas hoje tô de boa. Os irmãozinho não tinha consideração. Cê sabe que o Brasil vai começar uma guerra civil? Não tá sabendo? Não agarrou essa? Então vocês vão agarrar essa de primeira! Vai ser em 2017, não falta nem um ano. As cadeia tá entupida, tá tudo perturbado… Como eu faço pra dormir de noite? Eis a questão. Tu lembra quando fala na bíblia do Atalaia? Eu não durmo mais, isso que é a desgraça. Meu verdadeiro sonho, véi, é o ser humano olhar no olho do outro, e saber que é irmão. Que nóis não passa disso, véi. Eu não sou criminoso, não sou perturbado, ninguém de nóis é. Mas é o próprio povo que faz a pessoa criminosa, é ou não é? O meu maior segredo é olhar no olho e dar uma chance pro irmão. Se ninguém der uma chance, não vai saber quem é. Irmãozinho, é só um filho de Deus pra conhecer a alma do outro. Se você olhar no olho da pessoa… Tem pessoa que não faz isso com você, só desvia. Não desvia o olho do irmão. Porque se você faz isso, o teu olhar tá sendo corrompido.”
JP – CURITIBA – MAIO DE 2016