“Meu nome é Jair Benedito Tavares, idade meia oito. Não, nascido no Estado de São Paulo, Santa Cruz do Rio Pardo. Não, não, antes de vir pra cá fui embora pra capital. Fiquei 25 anos na área gráfica. Eu era tipógrafo, montava letra por letra. Trabalhava pros irmãos Marrone, mais ou menos em 1969. Me aposentei e vim pra Londrina, por ser uma cidade mais calma e por ter parentes aqui, irmão, irmã. Inclusive meu irmão é pastor, pastor Laércio. E ultimamente tô fazendo um bico, né, revendendo sorvete pra aumentar um pouco o capital da aposentadoria, porque não suporta, é meio pesado. Morei numa cidade muito violenta, Carapicuíba. Lá nêgo matava por questão de nada. Já vi umas barbaridade, não só lá como aqui também, né? Aqui eu acabei perdendo meu genro, foi assassinado… Tenho dois filhos, que adotei e criei. Um já é homem formado, trabalha numa transportadora, e outro numa metalúrgica, é casado também, bem casado. Andei fazendo uns bico à noite em portaria, trabalhei cinco anos no Edifício Caravelas. Todo final de ano cobria uma férias aqui, outra folga ali, esse ano não surgiu. Aí tem uns dez dias que tô mexendo com sorvete pra ver se ajuda, né? O pouco que dá ajuda, a verdade é essa. Ontem mesmo eu tava em casa, falei ‘quer saber de uma coisa? Vou pegar o carrinho e andar’. Fiz o [Hospital] Evangélico, graças a Deus me deu sessenta reais. Venho com esse carrinho do Shangri-lá. De lá até aqui na descida dá umas duas horas. Só que agora que tá terminando o dia não rendeu tudo isso que eu esperava. A turma não recebeu, acho. No mais, é tocando o barco. Tenho minha esposa. Ela tem diabetes, problema cardíaco e não tem aquele tratamento que precisava. Cê sabe que o SUS é todo falho, né? Sistema Único de Saúde é só o nome. Não ajuda nada, só manda pra cá, manda pra lá e não faz o que precisa. Gostaria de tratar melhor ela. Que esse ano de 2016 seja bom pra todo mundo, e que Deus Pai todo poderoso lá em cima iluminando o caminho de cada um. No mais, eu já fui tudo na vida, católico, evangélico… Ultimamente eu sigo um pouco a seita da espiritualidade, Allan Kardec. A gente pode muitas vezes ajudar as outras pessoas que tão sofrendo. Independente da religião, Deus é acima pra todos, não é verdade?”

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