“Eu vim de são Paulo, agora tô aqui no Paraná. Na verdade eu moro em Bela Vista do Paraíso. Meu marido faleceu. Fiquei com 4 crianças. Desempregada. Fiquei sem serviço porque eu não tenho estudo nenhum. Aí e difícil pra arrumar serviço. Quando eu arrumo alguma diária pra fazer ou alguém oferece algum serviço eu faço. Quando não oferece eu pego e venho vender bala. Fico no centro vendendo bala. Vou nas casas também.
Eu tiro trinta reais, quarenta reais por dia. Aí já dá pra comprar um gás. Dá pra compra um pacote de arroz. Então, agora mora três [filhos] comigo. Duas é casada. E eu tenho um netinho. Aí mora eu e mais três filhos. Meu marido faleceu. Aí a pensão dele que eu pego não da pra nada porque tá muito caro as coisas. Tem que ficar pagando água, luz, prestação da casa.
Algumas pessoas ajudam. Compram bala. Agora, alguns já critica. Acha que a gente é vagabunda. Acha que vender bala não é um trabalho. Falam assim: você pode trabalhar. Você é forte. Alguns chinga a gente. Tem uns que tem até nojo de chegar perto da gente. Tem pessoas legal também. Tem pessoas que ajuda. Às vezes a gente vai no restaurante eles dão comida pra gente também. Tem pessoas ruins, mas tem pessoas boas também.
Eu acho que em primeiro lugar tem que ter humildade, né? Eu não tenho vontade de tá onde eu tô. É uma coisa que eu tenho que fazer. Porque roubar eu não vou! Então, se for pra mim levar pro resto da vida, é nunca tirar nada de ninguém. Nunca fazer mal pra ninguém. Procurar fazer só o bem e procurar sair dessa vida. Porque eu não acho bom essa vida que eu tô. Ficar sentada oferecendo bala, sendo humilhada. As pessoas mandando trabalhar.
O meu sonho? O meu filho tem problema de convulsão sabe, aí eu fiz o exame da cabeça dele, fiz tomografia, fiz eletro e não deu nada. Aí meu sonho é fazer ressonância magnética. Só que eu já fui ver o preço e é muito caro. Então, meu sonho é esse aí. É poder realizar esse exame da cabeça dele. Acho que não tem sonho maior do que esse pra mim. E ter um serviço registrado pra mim poder trabalhar. Um serviço que eu sei que é garantido. Porque esse serviço aqui, quando tá chovendo não tem como eu vir. A gente passa necessidade.

Então, meu sonho é ter um serviço registrado. Ter um serviço digno sabe. Viver igual todo ser humano vive. Não assim querer ser rica, eu quero ser a pessoa humilde que eu sou, mas ter serviço digno pra trabalhar.
Eu diria pras pessoas abrirem uma porta do emprego pra mim. Eu não tenho leitura, mas tenho vontade de trabalhar.”

JP – LONDRINA – JUNHO DE 2016

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