Caso Alvim: tolerância ao ódio

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Foto: Marcelo Camargo/Agência Brasil.

Hoje, a polêmica do governo Bolsonaro envolveu o (ex) secretário Especial de Cultura, Roberto Alvim, por conta do seu vídeo que usa referências ao propagandista de Adolf Hitler, Joseph Goebbels, fazendo – portanto – referências ao nazismo.

Roberto Alvim perdeu o cargo mais pela repercussão do caso e menos pela apologia ao nazismo. Vale lembrar, que ontem (dia 16), quando Alvim divulgou a peça, o presidente Jair Bolsonaro fez duas declarações que, também, merecem repúdio.

“Quando [jornalistas] não conseguem deturpar, mentem descaradamente. E esse livro dessa japonesa, que eu nem sei o que faz no Brasil, que faz agora contra o governo.” Isso é xenofobia, sendo ainda pior por que a jornalista Thaís Oyama é brasileira.

“Não dê chance para essa esquerda. Eles não merecem ser tratados como se fossem pessoas normais, como se quisessem o bem do Brasil, isso é mentira.” Isso não é incentivar a violência contra gente da esquerda?

O que mais espanta nisso tudo, é que o ódio – na democracia brasileira deteriorada – é tolerado de forma seletiva, conforme o público atacado pelo presidente da República, que deveria representar todos os segmentos da sociedade.

Rodrigo Maia, presidente da Câmara dos Deputados, condenou o vídeo e pediu a cabeça de Roberto Alvim. Maia afirmou. “O secretário da Cultura passou de todos os limites. É inaceitável. O governo brasileiro deveria afastá-lo urgente do cargo.”

Como assim passou de todos os limites? Então existem limites que são tolerados. Pode-se ser racista, homofóbico, machista, mas não pode ser antissemita? Claro que não se pode ser antissemita, assim como não se pode ser racista, homofóbico e machista.

Enquanto o presidente e ministros atacam a população indígena, LGBTs, artistas, negros, mulheres, professores, jornalistas… tudo bem. Agora, quando faz apologia nazista passa do limite. Sabe o que não tem limite? A civilidade e o respeito ao outro.

Esse episódio mostra que para parte da sociedade e autoridades, o ódio a determinados segmentos é aceitável. Isso é perigoso demais. O discurso vira prática social. O ódio despejado contra humoristas, por exemplo, vira atentado à produtora.

O presidente do Senado, Davi Alcolumbre, é outra autoridade indignada com o vídeo de Alvim. “Como primeiro presidente judeu do Congresso Nacional, manifesto veementemente meu total repúdio a essa atitude e peço seu afastamento imediato do cargo.”

Alcolumbre repudia Alvim apenas por ser o primeiro presidente judeu do Congresso Nacional? O repúdio não deve ser em causa própria, mas considerar todos os grupos vulneráveis (ou não) diante da violência que o estado pode impetrar a seus cidadãos.

Enquanto presidente, só nesta semana, Bolsonaro atacou a imprensa, desqualificou os brasileiros com ascendência japonesa, legitimou a violência contra esquerdista. Enquanto deputado, Bolsonaro coleciona declarações machistas, homofóbicas, racistas, de apoio à tortura e à violência do estado.

Portanto, o tal vídeo nazista não é mero efeito colateral de um governo, cujo cargo maior continua estimulando a violência contra quem pensa diferente dele. A equipe do governo federal é a cara do presidente da República do Brasil.

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