Por David Lara Ramos, especialmente para a coluna a Ciça no Periférico

Em um flanco da Rua Claudino dos Santos, na cinzenta e chuvosa Curitiba, Brasil, há uma pintura em branco e preto com o rosto do presidente Bolsonaro. De baixo dessa imagem, a palavra “PORCO”, que não necessita tradução, porque nós aqui na Colômbia, em espanhol, digo, temos também essa mesma espécie.

Na calçada do Edifico Lebrao, no bairro da Lapa, no Rio de Janeiro, sobre uma parede de mármore envelhecido, se lê “FORA BOZO NAZISTA”. A tinta é vermelha, jorra algumas gotas, os traços são fortes e decididos.

“Fora Bozo”, mais que uma voz de protesto, ou sinais sobre a parede, é um grupo de cidadãos comprometidos com causas ganhas ao longo do tempo, com suas lutas, comprometidos com a diversidade, com o  respeito pelas diferenças e pela inclusão social. Esse mesmo grupo que hoje o Governo BOZO NAZISTA rechaça com o brilho próprio dos regimes hipócritas.

Nessa mesma calçada, depois de passar por três restaurantes especializados em frutos do mar, há uma pintura com o rosto de Marielle Franco. Uma mulher que foi eleita vereadora no Rio de Janeiro, ativista dos direitos do povo afro, em especial das mulheres das favelas da cidade, onde ela cresceu e viveu.

Marielle Franco foi assassinada em 14 de março de 2018. Quatro balas impactaram sua cabeça. Apesar da captura do bandido, nada se sabe sobre quem ordenou seu assassinato. Cinco meses depois, seguidos de pressões e protestos nas favelas do Rio de Janeiro, nas ruas de São Paulo, Londres e Nova Iorque, Raúl Jungmann, Ministro de Segurança, reconheceu que agentes do Estado do Brasil estão envolvidos com a morte de Marielle Franco.​

Enquanto o silêncio do Governo BOZO NAZISTA permanece, as manifestações de protesto clamam pela verdade. Desde 8 de janeiro de 2020, um vídeo se propaga pelas redes sociais. Nele, artista brasileira, radicada no Canadá, Juliana Le Pine, molda Marielle Franco como se ela fosse uma deusa. O vídeo impacta desde a primeira imagem. Um crânio inteiro, que se vai enchendo de “carnes”. Logo um esqueleto delgado, de fios de cobre e tiras de papel compõem a figura da mulher assassinada. Ao final da obra, Marielle Franco prostrada no chão, com um belo avental amarelo, planta girassóis em uma terra cheia de injustiças.

Assista: A obra se entitula Semente, em português. Semilla, en español.

Em um jantar de amigos, jornalistas, atores e escritores na cidade de Londrina, Estado do Paraná, o professor e pensador brasileiro Chico Amaro, adverte, com certa surpresa, sobre as semelhanças de palavras que nos unem. “De agora em diante – expressa com voz de tempestade —, estarei mais atento a estas semelhanças”.

Muerte é morte. Injusticia é injustiça. Traición é traição. Silencio é Silêncio. Mentira é mentira. Derecha é direita. Lucha é luta. Expressamos na reunião tentando encontrar termos parecidos entre os dois idiomas de antigos impérios.

De regresso à Colombia, se anunciam na imprensa novas mortes de líderes sociais, rodeados de evasivas e silêncios do Governo de Duque. É como se fosse um decalque de realidades distantes. Muda a geografía, mudam o espaços, mas a ideologia de extermínio é a mesma.

Penso então na obra da artista Juliana Le Pine modelando cada corpo de um líder assassinado, homenageando, com sua arte, a cada vítima, protestando contra esse silêncio miserável (miserable, se dice en español) que os Governos constroem com um código de honra institucional que segue se propaga pelos territórias da América.

Sobre o autor

David Lara Ramos é Jornalista, produtor cultural, colaborador da Fundación Gabo e professor da Universidad de Cartagena, na Colômbia, que passou vinte dias viajando pelo Brasil. Este texto, originalmente escrito para a sua coluna no periódico Las2orillas, foi traduzido especialmente para o Jornalismo Periférico por Ciça Guirado.

 

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