“Antônio Diniz. Nós somos dos Branco. De Oliveira Branco, o sobrenome. Eu morava há uns quatro quilômetro daqui, num sítio. Fui nascido ali. Meu pai veio pra região em 1936, eu nasci em 40, tô com 75 anos. Meus irmãos e eu somos oito, sete foram nascido, criado e casado naquele sítio, fica logo perto de Bela Vista. Era mato e tudo. O começo era só derrubar o mato. Meus pais falaram que tavam desanimando pra ir embora já. Eles vieram de Macatuba, Estado de São Paulo, lá era tudo aberto, tinha o sítio do meu avô. Aí aguentaram a mão, ficou, foram abrindo, plantando café… O café era bom.
De 1975 pra cá, aquela geadona, o café foi fracassando. Veio muita praga também. O começo era beleza, não adubava, não passava o veneno, nada. Mas foi acabando, arrancaram tudo os café. Eu tenho uma chacrinha. Era doze alqueires e meio, nós tamo em quatro irmão, dividimo, tem três alqueire cada um hoje. O meu tá arrendado, agora planta soja. Tá rendendo, porque trabalhando não tava aguentando mais. Arrendei a terra lá e comprei um terreno aqui na Warta, fiz a casa, faz cinco anos que tô morando aqui. Sou casado, tenho quatro filhos. Sonho? Hoje só quero ficar sossegado. Eu trabalhei na roça a vida inteira, até os setenta anos tava trabalhando. Quanto tinha café, tinha serviço. Aí arrancaram os café, veio a soja, e é tudo maquinário. No fim eu tava carpindo um pouquinho só. Cê sabe que eu não gosto de cidade? Nossa, eu nunca gostei, só pra ir, ter que fazer o que tem pra fazer e ir embora. A minha casa tava muito ruim no sítio, apodrecendo. Com a idade que nóis tá, eu e minha esposa aposentado, filho casado, não compensava gastar dinheiro no sítio. E a minha mulher doida pra ir embora de lá. Tem uma filha nossa morando aqui, a gente comprou no terreno vizinho. Eu não queria vim de jeito nenhum. Não gostei de morar aqui, não. Aqui não é cidade, mas é quase. Londrina? Eu ficava naquela casa até cair, mas não mudava pra Londrina. Negócio de cidade eu nunca fui chegado. Sempre gostei da roça.”
JP – LONDRINA – DEZEMBRO DE 2015