“Meu nome é Anderson João Bastos, tenho 25 anos, e tô aí nessa vida pela teimosia. Trabalhei nos melhores lugares: Fui Sushiman no Shopping Iguatemi, no Viena, no Galetos, América. Já tive de tudo nessa vida.
Eu sai dos empregos por ser fraco, por ser covarde e não ter coragem de enfrentar a realidade do dia a dia, falta de assumir a responsabilidade que é ser um homem, ter uma família, ter compromisso. Sou solteiro e não tenho filhos. Morava em Pirajussara, zonal sul, mas nasci em Osasco.
Faz cinco meses que sai da cadeia. A vida na rua é horrível, solitária. Dentro da cadeia creio que seja até melhor, porque lá dentro tem companheirismo, mas tem que ter reponsabilidade e compromisso, senão o chicote estrala. É difícil, mas lá a gente tem onde morar, onde dormir, tem o que comer, regras, porque se não tiver regras…
A fase mais puxada da minha vida foi quando eu estava na cadeia, cumpri 2 anos e 9 meses. Minha mãe me ajudava, mas agora minha família me abandonou, eles moram aqui em São Paulo. Quero sair dessa vida maldita, isso é uma maldição.
Lá dentro da cadeia você sabe que um dia você vai sair, e lá você não usa droga, mas aqui, o mundo é aberto, se você quiser usar droga você usa, se quiser ir ali roubar você rouba, lá não, é até meio louco eu falar isso pra você, mas morar na rua é muito complicado. Lá na cadeia tem horário de alimentação, café da manhã, pode andar pra tomar um sol, mas você sabe que um dia vai sair, depois de cumprir o que você fez, se você matou, se roubou. O único foda de lá é as blitz dos policial, esse que é o foda.
Aqui na rua a sociedade totalmente nos criminaliza, nos condena, porque quem vai querer um usuário de crack perto do seu estabelecimento, ou em qualquer lugar.
Meu arrependimento na vida é de não ter ouvido minha mãe, quando ela dizia para sair de perto de uns colegas da favela. Sei que é difícil reconquistar minha mãe de novo.
Eu quero deixar um recado para minha mãe: Mãe desculpa por eu não ter te ouvido, por eu te fazer sofrer tanto, e um dia eu vou sair dessa vida, e um dia eu vou brilhar, te amo.”

JP – SÃO PAULO – AGOSTO DE 2015

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