“Eu tô na rua porque 4 anos atrás minha mãe faleceu né. É que eu criei um distúrbio, sei lá o que aconteceu comigo. Eu acabei se entregando pra pinga. Daí minha mulher acabou se cansando. Eu era casado, tenho 2 filhos com ela. Eu vim pra rua pelo motivo mesmo do falecimento da minha mãe. Meu nome é Ronaldo Brás. Eu tenho 33 anos. Eu vim de Dois Vizinhos, Paraná. Eu vim pra cá tinha 2 anos de idade. Então praticamente meu coração é daqui né, Curitiba. Dificuldade? A principal mesmo é o desemprego, né? Porque a maioria das pessoas que mora na rua as vezes quer, mas não tem oportunidade. Porque tem vários irmãozinhos que conheci, que conheço que quer, mas não tem oportunidade. A sociedade não dá oportunidade pra esse povo. Não se é porque anda mal arrumado? Ou porque não faz barba? Não corta o cabelo? Então acho que é a maior dificuldade que existe pro pessoal, pros morador da rua. Olha, na verdade eu durmo num lugar, no outro. Na calçada. As vezes sem coberta. No frio. No relento. Muitas vezes chove, molha tudo nois. É complicado. Na madruga então, no inverno, han… A gente passa um frio danado. E fome também. A gente passa muita dificuldade pra comer. A refeição não tem hora certa. Não tem horário. As vezes nem tem. A noite é complicado. Tem que dormir com um olho aberto e outro fechado, senão… A gente dorme sempre com amigos, sempre com os parceiros. Sozinho não dá. Tem muita maldade de noite. Já vi muita coisa ruim acontecer. Já vi irmãozinho levando facada. Irmãozinho desmaiando de noite por causa de droga, pinga. Convulsões que dá né, então, é complicado. A noite é complicado. Meu sonho? Meu sonho mesmo era conseguir uma casa pra mim buscar minha família. Minha mulher e meus filhos. Eles moram no Abranches. Meu maior sonho mesmo é dar uma casa pra eles. Esse é meu sonho principal. Eu tenho fé em Deus que mesmo eu estando aqui eu vou conseguir. A mensagem que eu posso deixar é que Deus abençoe todos vocês que faz esse trabalho bonito pra nois. Conhecendo as história de nois, dos irmão. E divulgando né, pros maiores vê que nois existe na sociedade. Como muitos falam, esses daí não é qualquer um que tá jogado lá. Não é por aí. Nois somos gente, e cada um tem uma história de vida. Eu tenho uma profissão boa. Eu sou pedreiro. Eu entrego uma obra com a chave na mão. Tem muitas pessoas que não vê isso de nois. Então, pessoal eu agradeço muito a vocês por divulgar esse trabalho, por divulgar a nossa história pros maiores lá de gravata, de terno e gravata vê nois. Agradeço muito vocês. É isso aí.”
JP – CURITIBA – OUTUBRO DE 2015