“Meu nome é Francisco Souza, ‘Ceará’. Conhecido aqui na redondeza aqui há 33 anos. Na super quadra [Tupã]. Trinta e três anos que eu vivo aqui nessa luta. E graças a Deus tenho amizade com todo mundo. Todo mundo gosta de mim. O dia que eu não venho o pessoal pergunta: o que aconteceu com Ceará? Já liga lá em casa. Porque aqui eu não falto. Todo dia tô encostando naquela banca de revista ali. Ali na banca eles têm meu telefone. Eu fico ali. Eu já chego. Ligo nos apartamento deles pra pegar alguma coisa. Já encosto o carrinho. Já entro lá dentro. Eles abrem a garagem. Eu entro, e graças a Deus eu sei entrar e sei sair.
Meus filhos eram treze. Mas morreu metade já. Hoje tem seis vivos. Morreu sete. E tenho três filhos de criação. Que eu criei também. E nois vamos levando a vida né? Até quando Deus quiser. Já tô com meus 83 anos. Eu tô lutando. Graças a Deus. E outra, o pessoal vem me dar as coisas porque querem me dar mesmo. Mas eu não peço nada pra ninguém. Tudo que eu ganho aqui sai do meu suor do meu trabalho. Ah… meu sonho de vida rapaz? Nem sei… Meu sonho de vida era ir pra minha terra visitar meu irmão, que é o mais velho que eu tenho. Mas não dá. A situação hoje não dá pra ficar pagando passagem pra viajar né? Ele liga pra mim. Eu ligo pra ele. E tamo se entendo. Quero visitar e voltar.
Não tenho inimizade com ninguém. Todo mundo me trata bem. Ontem mesmo uma senhora pediu umas caixas no apartamento dela. Ela enchia de coisa pra levar lá em casa. Não era nem pra eu levar. Mas eu moro longe. No [Jardim] Jamile Dequech. Lá na saída pra Curitiba. Pego ônibus. [O carrinho dele fica guardado na Rua Paes Leme] Aí vou juntando né. A dona tem um quintal muito grande e cedeu pra mim guardar as coisas. Quando é sexta-feira o caminhão vem e pega. Graças a Deus dá pra gente fazer a feirinha do final de semana. A minha mulher tá lá em casa. Deitada junto da cama. Tem artrose. Nessas horas nois pede que Deus proteja ela. Que dê muita saúde pra ela.”
JP – CURITIBA – OUTUBRO DE 2015