Quando falamos sobre política, religião e o inconsciente, é preciso, em primeiro lugar, definir o conceito de mito. No senso comum, a palavra mito significa basicamente uma mentira, uma ilusão, uma camuflagem, uma lenda ou uma crença desligada da realidade.
Mas com o desenvolvimento da psicanálise, principalmente a partir dos estudos de Freud e Jung, o mito passou a ser entendido de outra forma. Ao analisar os sonhos, a psicanálise identifica muitas relações entre as narrativas criadas pelo inconsciente e as narrativas criadas nas mitologias, nos contos de fada e nas histórias que sobrevivem na tradição oral.
E foi assim que observaram que essas histórias, aparentemente banais, são mais importantes do que parecem, porque elas ajudam a revelar algumas dinâmicas sutis do nosso inconsciente.
Mito e narrativa
A partir daí, antropólogos e historiadores da religião também passaram a definir o mito como uma “narrativa” que se refere a um passado sagrado, que não foi vivido pelas pessoas, mas que ajuda a criar um sentido para o mundo.
Ou seja, com a sua imaginação, com a sua sensibilidade e com as intuições do inconsciente, as pessoas repetem essas histórias e vivenciam essas experiências sagradas através de símbolos e rituais – muitas vezes sem perceber ou sem ter consciência do significado desses símbolos, justamente porque eles operam no inconsciente.
Mas o pesquisador que pretende compreender a lógica do pensamento de uma sociedade, precisa analisar os mitos, os rituais e os símbolos que criam sentido para a realidade.
Mas é preciso cautela para decifrar mitos, porque eles são muito ambivalentes e podem ter vários significados. Girardet nos lembra que frequentemente um mito pode inverter o seu significado.
Por exemplo: o tema da conspiração não é necessariamente acompanhado de conotações negativas. A imagem do complô demoníaco, por exemplo, tem como contrapartida a da santa conjuração. O segredo, a máscara, o juramento, os cúmplices, tudo aquilo que é denunciado e temido no outro; de repente, se torna um imaginário que atribui heroísmo ao grupo que se define como os conspiradores do bem.
É por isso que o mito político é muita coisa ao mesmo tempo: mentira, fabulação, dinâmicas do inconsciente e narrativa explicativa da realidade.
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