Vejo gente progressista amaciando para Ciro Gomes, Marina Silva e FHC, mas chutam Luiz Inácio Lula da Silva por não ser hora de divisão. Querem do petista uma grandeza que não cobraram – nem cobram – dos outros três, pelos seus passados recentes.
Lula foi preso pela Lava Jato e impedido de disputar as eleições de 2018. Não estou dizendo que ele é inocente. Estou afirmando que ele foi perseguido pela operação com apoio de amplos setores da sociedade, mas não é hora de falar disso.
O MPF e o então juiz Sérgio Moro abusaram do lawfare contra o PT e ajudaram a criar o ambiente para a ascensão de Jair Bolsonaro ao Palácio do Planalto, mas não é hora de falar disso.
Muitos culpam o petismo e os eleitores de Fernando Haddad por Bolsonaro na Presidência da República, quando ele é muito mais fruto do antipetismo, o ódio ao PT, mas não é hora de falar disso.
Manifestos da elite querem Bolsonaro fora, não incluem o povo por apoiar a nefasta política econômica de Guedes, querem suprimir ainda mais direitos e políticas públicas, mas não é hora de falar disso.
Defendo fora Bolsonaro, mas é hora de falarmos de qual projeto de país queremos construir. Um Brasil mais justo, menos desigual que cumpra seus princípios constitucionais cidadãos.
Quero democracia e quero também políticas públicas de qualidade na saúde, na educação, na assistência social, na cultura, no meio ambiente, na agricultura e em outras áreas, com participação popular.
Quero democracia e quero também empregos de qualidade com salários dignos e boas condições de trabalho, sindicatos representativos, garantia de direitos trabalhistas e previdenciários.
Quero democracia e quero também ações afirmativas para o povo preto, o povo LGBTQI+, o povo com deficiência, o povo indígena, o povo que vive nas ruas e outros povos vulneráveis.
Quero democracia e quero também investimento público em ciência, em pesquisa científica, no desenvolvimento tecnológico e em ações que desenvolvam e fortaleçam a inovação.
Quero democracia e quero também um país, cujos governantes – do prefeito ao presidente – respeitem os direitos humanos, fortaleçam a soberania e articulem ações que visem o multilateralismo.
Quero democracia e quero também justiça social, com enfrentamento à desigualdade, combate à sonegação fiscal, taxação de grandes fortunas e combate não seletivo à corrupção.
Quando é hora para discutir o país que queremos se a elite – principalmente a econômica – costuma interditar esse debate, terceirizando seu ódio para manter seus privilégios de sempre?
Eu quero democracia e muito mais!