“Medicina humanizada é pleonasmo né?”, brinca a Dra. Carol, 43. Pediatra desde 2003 Maria Carolina Alvim acredita que a medicina nunca deve perder seus princípios: escutar o paciente, acolher, explicar e respeitar. “Eu não consigo ver uma medicina que não seja humanizada. Temos que entender que estamos lidando com uma pessoa, não com uma doença.”

A tia Carol, como é chamada pelos pacientes, vem de uma família de médicos e conta que a escolha pela pediatria surgiu nas salas de aula da UFMG (Universidade Federal de Minas Gerais). “O dia que eu atendia pediatria eu era mais feliz. E acredito que é preciso ter esse ‘tchan’ para escolher uma especialidade que exige tanto contato com o paciente. O gostar de colocar a mão, de estar perto, é fundamental, eu amo.”

A pediatra já trabalhou no hospital infantil João Paulo II e na UTI pediátrica do hospital João XXII, ambos de Belo Horizonte-MG. No hospital São Judas Tadeu em Oliveira, na Santa Casa de Misericórdia de Itaguara e de Carmopólis, ao todo são 14 anos de hospital. Ela conta que uma das partes mais gratificantes é ver um pacientinho muitas vezes super mal, na UTI por exemplo, e de repente ver ele melhorando. “Mexe muito com o nosso psicológico. Na hora da emergência nunca me abalei, mas depois que passa, na hora de dar uma notícia de morte pra uma mãe, não consigo separar profissional e emocional, muitas vezes eu desabo, sofro junto com a mãe.” Alvim conta sobre o paciente que mais marcou sua trajetória.

 

No caso do Nilo, ele era filho de ciganos e a Dra. relata como é sua conduta em relação as escolhas pessoais dos pacientes: “Temos que respeitar, entender que não somos donos da verdade. Orientar sem julgamento, ser comprovado cientificamente não significa que deva ser empurrado no paciente. No começo da carreira eu era mais imatura, sofria muito por achar que o paciente tinha que fazer o que era preciso e pronto. Hoje não, explico e tento oferecer alternativas para manter a saúde da família.” Mas alerta que em situações que as escolhas apresentam riscos para a vida da criança, é importante comunicar outros setores responsáveis, como o conselho tutelar, para mantê-la em segurança.

 

Foto: Reprodução/Instagram

Médico não é um bicho de sete cabeças!

A Dra. Carol diz que sente que os brasileiros criam uma supervalorização do médico. “A sociedade em si cobra muito de nós. Eu mesma limito um pouco minha vida pessoal devido à profissão. Já deixei de beber uma cervejinha num restaurante por ver algum paciente meu.” Ela diz que é algo que tem que ser repensado, até mesmo no meio médico. “Tem muitos colegas que se acham superiores quando estão em equipe. Todos os profissionais são importantes, do enfermeiro ao fisioterapeuta, cada um tem seu papel. Alguns exigem serem chamados de doutor por exemplo e eu particularmente não faço questão, não acho que vou perder minha credibilidade por ser chamada de Carol.”

Apesar de procurarem separar a vida pessoal, da vida profissional, ela conta que algumas escolhas pessoais ajudam na profissão, como a maternidade. “Agora eu entendo o desespero que faz uma mãe me ligar de madrugada, por causa de uma febrinha.” A Dra. se tornou mãe há 12 anos, quando teve sua primeira e única filha Mariana.

Com certeza a carreira também interfere na vida pessoal. A mineira explica que morava na mesma casa da filha e não a via. Por muitas vezes deixou ela doente com um familiar para ir cuidar das outras crianças no hospital. “A Mari ainda falava quando era pequenininha que não ia ser médica porque queria ter tempo para os filhos. Aquilo era como enfiar uma faca no meu peito (risos). Os pequenos sabem certinho o que toca a gente né?”

Qual o papel do médico nas redes sociais?

“Vou dar de graça, o que as pessoas pagam para escutar no consultório. O que você pensa sobre essa frase Dra.Carol?” A pediatra responde esta e outras questões sobre a atuação da comunidade médica nas redes sociais. Não perca, na próxima matéria, que será publicada na próxima segunda 26/10/2020.

Por: Gabrieli Chanthe, com orientação de Priscila Sanches

Compartilhar:

DEIXE UMA RESPOSTA

Please enter your comment!
Please enter your name here