O cantor lírico
Dia 27 de junho é comemorado o dia dos artistas líricos. O lírico, também chamado de Bel Canto, tem a voz como instrumento – o que emociona é o som, não tanto o texto. A origem do termo está relacionada com Lyra, instrumento musical de corda, utilizado pelos Gregos para acompanhar os versos poéticos durante muitos séculos.
Há muito trabalho por trás de um canto lírico e a impostação da voz é bem diferente do canto popular. O cantor deste gênero precisa estudar e fazer exercícios diários para conseguir o maior desempenho com o menor esforço.
Alessandro Sangiorgi, nascido em Ferrara, Itália, é formado em piano pelo conservatório de Milão. O maestro afirma que hoje em dia existem muitas alternativas para quem tem interesse na área. Cita como exemplo a universidade pública, que é gratuita; o treino em piano online que segundo ele é eficiente para o aprendizado e diz ainda que já deu aulas sem custo para alunos que ele via futuro e que hoje estão em carreira internacional. “O artista lírico serve o bem-estar da comunidade como um todo, as pessoas precisam se divertir e é isso que os artistas proporcionam, além do mais, é uma profissão que exige estudo a vida toda, precisamos sempre nos aprimorar, cuidar da voz, do corpo. Então o parabéns é dobrado!”, explicou.
Quem aprecia o gênero lírico?
Entende-se que perante a exigência de tanto empenho dos cantores líricos, o gênero seja apreciado por grande parte da população, mas não é isso que a pesquisa ‘Públicos de Cultura: hábitos e demandas’, realizada pelo Sesc (Serviço Social do Comércio), em parceria com a Fundação Perseu Abramo aponta. Foram entrevistadas 2.400 pessoas em 25 estados, e 89% dessas disseram nunca ter ido aos concertos de ópera ou música clássica.
O acesso é algo relevante quando se trata desse estilo musical, não é algo que se faz presente no cotidiano da maioria dos brasileiros. Cássia Popolin, 51, mestre em Comunicação pela UEL, quando questionada sobre o conhecimento de concertos líricos, diz conhecer óperas lindas, inclusive em outros estados como no Rio Grande do Sul. Já Maria Ivani dos Santos, 60, empregada doméstica, afirma que nunca ficou sabendo sobre apresentação de ópera “eu imagino que seja maravilhoso, mas não é pra alguém do meu nível”, afirmou.
Sangiorgi reconhece que a produção desse tipo de show é realmente cara, mas que atualmente existem grandes possibilidades para conhecer. Em Londrina (PR) pode-se observar tentativas de aproximação entre o gênero lírico e o público em geral. Em 2016 por exemplo, foi a organizada a “1ª Mostra de Canto Lírico” que tinha como objetivo levar o canto lírico à população mais afastada. O evento foi gratuito e contou com a participação de cantores paranaenses acompanhados ao piano. No dia 21 de junho a Orquestra Sinfônica da Uel (OSUEL) apresentou, no teatro Ouro Verde, o concerto “Compositores Nacionalistas”. Imagina-se que comparecer a um evento como esse seja caro e possível somente à elite, como Maria Ivani disse, mas de acordo com o maestro Sangiorgi o preço é acessível, R$20,00 inteira ou R$10,00 a meia entrada.
Um outro empecilho, além da ideia de que é uma arte restrita à classe alta, são as opiniões negativas sobre ópera por parte de pessoas que nunca foram a um concerto. “É preciso estar na plateia, sentir o som, a emoção, ao vivo, para assim poder dizer se gosta ou não” afirmou o maestro.
Apesar da forte influência do senso comum, Sangiorgi destaca o diferencial do Brasil em comparação aos países Europeus: a curiosidade do povo. “Quando faço apresentações no exterior só vejo cabeças brancas na plateia, aqui no Brasil existe uma variedade maior no público e é composto por muita gente que está indo pela primeira vez numa ópera, há o interesse em conhecer algo novo”, contou.
O Maestro classifica também como um gênero popular pois, sendo cômica ou mais triste, é uma arte que toca todas as pessoas e não precisa ter estudo para entender. Diz ainda que hoje em dia a maioria dos concertos são legendados o que também facilita a compreensão. “O Brasil carrega um otimismo, e isso junto a curiosidade anima os artistas da área. Tem muita gente que ainda nem sabe que vai gostar de ópera, mas irá”, afirmou.
OSUEL – Orquestra Sinfônica da Universidade Estadual de Londrina
A Orquestra Sinfônica da Universidade Estadual de Londrina (OSUEL) foi criada em 1984 e foi a primeira orquestra sinfônica do Paraná. É uma entidade cultural que pretende estimular a apreciação musical da população para que ampliem o repertório musical histórico.
A orquestra possui o projeto educacional “Concertos Didáticos” que tem o objetivo de, através de aulas-concertos, contribuir para a formação cultural de estudantes, a partir do conhecimento da estrutura e composição de uma orquestra sinfônica. Busca, desta forma, despertar o interesse pela música de concerto, estimulando o público a refletir e a desenvolver o hábito da escuta crítica, bem como o papel da música na sociedade contemporânea.
Mesmo sendo pioneira e tendo projetos como esse, ainda hoje muitos londrinenses não conhecem a OSUEL. Que é importante para a cultura da cidade. Nota-se assim uma falta de divulgação dessa área.
Por: Gabrieli Chanthe