Barcelona parou nesta sexta-feira (18). Uma greve geral convocada por coletivos sindicais, junto à chegada de manifestantes de toda a Catalunha nas Marchas Pela Liberdade, reuniu, na região central do Passeio de Gràcia, 525 mil pessoas (de acordo com a Guarda Urbana; os organizadores estimam esse número em 750 mil).
Além da multidão, as vias foram tomadas pelas senyeras esteladas (a bandeira oficial do movimento independentista catalão) e ecoadas por gritos de “liberdade aos presos políticos”, de jovens universitários a famílias e idosos. Foi o auge da proposta de desobediência civil pacífica, em resposta à condenação de políticos e ativistas catalães, expedida na última segunda-feira (14) pela Suprema Corte da Espanha.
Vídeo da multidão feito por André Costa Branco
Somadas, as condenações somam quase 100 anos de prisão, para 12 líderes catalães, por crimes como os de sedição (crime contra segurança de um país) e malversação (desvio de fundos no exercício de um cargo). O processo é decorrente do referendo de outubro de 2017 que perguntou aos eleitores da Catalunha se eram favoráveis à independência e à consequente criação de uma nova república.
A reação da sociedade civil foi imediata e, desde o início da semana, manifestações se espalharam por toda a Catalunha. Algumas delas, especialmente em Barcelona, fogem ao controle, com grupos reagindo à abordagem violenta da polícia espanhola. Na noite desta sexta-feira, uma batalha campal tomou o centro antigo de Barcelona, nas regiões da Via Laietana e na Praça da Universidade, eclipsando o protesto muito mais numeroso no Passeio de Gràcia.
As imagens das barricadas são as que acabam ganhando o mundo. Mas a jornalista Maria Badet, integrante da plataforma Mulheres Brasileiras Contra o Fascismo em Barcelona, pontua que os episódios de violência ocorrem em uma região da cidade onde está localizada a sede da polícia espanhola, “que vai para cima de jovens a qualquer sinal de confronto”.
Imagens da entrada dos manifestantes em Barcelona
Badet também critica a cobertura dos veículos brasileiros. “A Globo, a Folha de São Paulo e muitos outros estão reproduzindo o discurso espanholista midiático. Não estão escutando e sentindo as ruas. Há muita coisa a analisar, a entender o sentimento e a necessidade frente a um processo histórico de repressão que vive o povo catalão”, conclui.
Enquanto Barcelona ardia, seja literal ou metaforicamente, a família real espanhola participava de premiação em Oviedo, no norte da Espanha. O evento marcou o primeiro discurso público da jovem Leonor, filha mais velha do rei Filipe VI e herdeira do trono, desde que foi condecorada com o título de Princesa das Astúrias.
Texto e fotos: André Costa Branco, de Barcelona para o Periférico