Crédito: arte do coletivo Prazer, feminismo

A desigualdade de gênero no Brasil se manifesta em todos os âmbitos da vida feminina e a universidade é um deles. Segundo o Inep (Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais), o CNPq (Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico) e a iniciativa Parent in Science, entre os estudantes que ingressam no ensino superior, 57% são mulheres. Mesmo sendo maioria, são os homens que ocupam a maior parte do corpo docente (54%) e têm mais bolsas de produtividade em pesquisa (64%).

Mulheres têm menos oportunidades devido ao machismo e por causa das funções que o machismo as atribui. No relatório produzido por Helena Nader, presidente da SBPC (Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência), é destacado que as mulheres, além da maternidade, também deixam mais o trabalho do que o homem para cuidar da saúde de membros da família. Como resultado, recebem menos convites para participar de pesquisas internacionais e conferências no exterior.

A mulher ainda é vista como a principal responsável pelos afazeres domésticos, como um ser frágil que deve ser protegido, como pessoas incapazes para determinadas atividades e mais propensas a desistirem da função. Estereótipo que tenta determinar onde é seu lugar e onde não deve ser.

Pesquisa publicada em 2017 pela consultoria holandesa Elsevier, analisou mais de 5,5 milhões de estudos e atestou que a distribuição das mulheres na ciência é desequilibrada. Elas são pelo menos 40% do contingente dedicado às áreas de Humanas e Biológicas. No entanto, são menos de 25% do contingente de Exatas, que abrange carreiras como Engenharia, Matemática e Física.

Barbara Rosa é aluna do 2º ano de Física, na UEL (Universidade Estadual de Londrina) e conta sobre sua percepção em relação à baixa aderência de mulheres nos cursos de exatas “É uma questão estrutural, as meninas não são ensinadas a questionar as coisas. Na infância, por exemplo, se um brinquedo quebra, a menina é orientada a deixar pra lá, enquanto incentivam o garoto a resolver o problema. Ensinam que garotas só são boas em atividades que exigem cuidado e delicadeza, fato que faz com que sejamos minoria nas ciências exatas”, explica a estudante.

Rosa é uma das integrantes do Projeto Katherine Johnson, grupo criado por mulheres dos cursos de exatas da UEL, que tem como objetivo incentivar a permanência das mulheres nessa área, para que todas se sintam incluídas, mesmo sendo minoria em relação aos homens.

Outro problema enfrentado majoritariamente pelas mulheres na universidade é o assédio. Levantamento feito pelo Instituto Avon em parceira com o Data Popular, em 2015, aponta que 67% das mulheres brasileiras já sofreram algum tipo de violência no ambiente universitário. Uma das maneiras de tentar enfrentar essa situação é a união feminina. Assim como na UEL, meninas do campus de Cornélio Procópio da UTFPR (Universidade Tecnológica Federal do Paraná) criaram o grupo Prazer, Feminismo.

A estudante do 2º ano de Engenharia Elétrica Emmanuely Brandão é uma das participantes e conta sobre o trabalho desenvolvido. “Temos um projeto contra a discriminação de gênero e o assédio dentro da universidade. Nesse projeto, nós expomos relatos de alunas, de forma anônima, que passaram por isso. Realizamos rodas de conversa, mensalmente, para debater essa e outras questões”, informa Brandão.

Mesmo com tanta desigualdade, seja na falta de acesso às mesmas oportunidades dos homens, o pouco incentivo para a área de exatas e os casos de assédio, pouco se ouve falar de iniciativas das instituições para amenizar o problema. É como se o bem-estar e a vida das mulheres não merecessem atenção. É mais cômodo tentar esconder a realidade e deixar que as próprias mulheres resolvam, afinal é isso que acontece desde sempre.

Se as mulheres podem ingressar nas universidades foi porque lutaram para isso. Se permanecem, é porque continuam lutando. Mulheres não têm paz nem para estudar e ­­­isso não deveria ser visto como algo natural.

 

Compartilhar:

DEIXE UMA RESPOSTA

Please enter your comment!
Please enter your name here