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Você já se perguntou qual o motivo de nos alimentarmos? Por que comemos? Além de repor nutrientes necessários à manutenção da nossa vida e da nossa saúde, muitos poderiam responder dizendo que comemos para obter prazer, afinal, não é maravilhoso comer um alimento delicioso preparado com muito carinho? Podemos até desfrutar de um momento de prazer, degustando aquela comidinha favorita ao lado de pessoas que amamos. Mas isto não é o fim em si mesmo do ato de comer. Comemos porque necessitamos fazer a manutenção do nosso organismo, repor aquilo que o corpo utiliza para se manter bem e em pleno funcionamento.

Porém, existem pessoas que sofrem da famosa ‘compulsão alimentar’, e aqui o ato de comer ganha um terceiro significado, que muitas vezes só tem vida no inconsciente, ou seja, é um significado que a própria pessoa desconhece, o qual abordaremos mais adiante. Este é um transtorno muito sério que acomete pessoas de qualquer idade. O Transtorno da Compulsão Alimentar é caracterizado, segundo o Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais – DSM5, pela ingestão de alimentos maior do que o normal em um prazo de duas horas. É uma quantidade excessivamente maior, não se preocupe se você come um pouquinho a mais em determinados momentos de sua vida. (É importante você não se autodiagnosticar, o melhor a fazer é consultar um profissional para te ajudar a esclarecer, caso tenha dúvidas quanto a isso.)

A pessoa que sofre de compulsão alimentar come de forma rápida e exagerada até sentir-se desconfortavelmente satisfeita. Mas este texto é direcionado a todos aqueles que comem sem o objetivo de nutrir-se e satisfazer seus estômagos, não será necessariamente direcionado exclusivamente aos que sofrem deste transtorno. Como foi dito no texto anterior, nós seres humanos somos muito complexos, portanto nada pode ser tão matemático, definitivo. Existem diversos fatores que levam à culminação de qualquer um dos transtornos. Os distúrbios da alimentação não são diferentes. Porém, pode-se dizer que boa parte do impulso que leva uma pessoa a comer de forma desenfreada ou desequilibrada pousa seus pés sobre a ansiedade.

A correria do mundo capitalista mal dá espaço para as pessoas voltarem-se pra si mesmas, concentrarem um minuto sequer na sua própria respiração, ou relaxarem o corpo para entrarem em contato consigo mesmos. Muitas pessoas estão muito ocupadas com o corpo e também com a mente, pensando em como ela vai fazer para obter mais sucesso ou dinheiro, sempre projetando em sua tela mental fatos futuros, que tiram-lhe a atenção ao momento presente. Este tumulto mental, projetos futuros, preocupações excessivas, cargas intensas de trabalho, falta de descanso real do corpo, falta de sono regulado, tudo isso gera uma carga no organismo que leva a pessoa a sentir os efeitos de exaustão, que podem estar associados à descarga na alimentação desenfreada. Mas não é só isso. A ansiedade é uma grande aliada dessa vontade de comer tudo o que tem pela frente. O fato de as pessoas estarem presas a um futuro ou em busca de algo que nem elas mesmas sabem o que é, expectativas criadas, ilusões e fantasias, cobranças internas e externas, sentimentos mal resolvidos, enfim, uma série de fatores podem levar ao consumo excessivo e desnecessário de alimentos.

Quando uma pessoa começa a descarregar esta energia psíquica no ato de se alimentar em demasia, ela cria um vício, tanto psicológico quanto físico. Não entraremos em detalhes que não são de minha área, mas sabe-se que um organismo viciado em açúcares, por exemplo, necessita de uma limpeza, uma desintoxicação, para poder se livrar deste vício. Já o vício psicológico podemos dizer que também é capaz de ser eliminado, bastando para isso um pouco de força de vontade.

Esta vontade desenfreada de comer, independente dos motivos que a geraram e independente das circunstâncias exemplificadas acima, é capaz de aprisionar o indivíduo que não desenvolveu em si mesmo uma completa integração com aquilo que o anima, que o move, no mais profundo de seu ser. A compulsão é o ato de jogar para dentro algo externo para preencher um vazio existente que não prestamos atenção. É a vontade de silenciar algo que não ouvimos direito, algo que nos incomoda mas não sabemos sua origem.

Mas afinal de contas, o que tem a ver a correria do capitalismo e suas exigências com o vazio que sentimos, e mais, com a vontade de comer exageradamente? Tudo! A correria nos impede de nos conectarmos com nossas essências, com nosso verdadeiro Eu, com nosso Self. Ela não só impede como nos dá diversas maneiras de nos distrairmos ainda mais, ficando cada vez mais distantes de nossa verdadeira natureza. O resultado disso é uma ansiedade exacerbada, uma vontade de preencher isso que não sabemos o que é, essa falta (é a falta de conexão consigo mesmo) é a responsável pela vontade de comer. Então quer dizer que eu devo largar tudo e ir morar no meio do mato pra me conectar e começar a resolver minhas ansiedades? Não. A não ser que você queira… Mas não é necessário. É perfeitamente possível manter uma vida normal e se conectar, se conhecer, se descobrir e desabrochar aos poucos a sua própria natureza real.

Procure dedicar, no mínimo, 5 minutos do seu dia para conversar consigo mesmo. Desligue os aparelhos eletrônicos, ouça sua voz (ou suas vozes mentais) interior, e depois, procure silenciá-la também. Muitos dos nossos problemas poderiam ser resolvidos se aprendêssemos a nos conectar com a nossa própria sabedoria. Nosso inconsciente é rico, sabe de todas as respostas pelas quais necessitamos, e temos todos os recursos escondidos dentro de nós mesmos.

Parar tudo que se está fazendo, respirar e sentir-se vivo é um grande método aliado na hora em que assola essa avassaladora vontade de atacar a geladeira. Algumas pessoas podem chegar a sentir tremores, tamanha intensidade da ansiedade por comida. Nesses casos a dica é procurar algo pra fazer neste momento, tirar o foco do pensamento e da vontade. Reprogramar a mente requer atenção, auto-observação, vontade de ter o controle de sua própria vida e seus impulsos.

Aos poucos, com uma reeducação alimentar e psíquica, vai chegando à consciência a compreensão do real motivo pelo qual nos alimentamos. Vamos começando a nos alimentar de forma mais saudável, e claro, não deixando de compartilhar este momento tão prazeroso com nossos amigos e familiares.

Em casos mais graves, é importante que a pessoa procure auxílio médico, faça uma desintoxicação no seu organismo e comece devagar o processo de cura. A persistência é uma grande aliada. Poderá haver momentos de fraqueza, momentos de queda. A abstinência aqui é real! É interessante não se culpar se cair, não se menosprezar, levantar a cabeça e seguir adiante na desintoxicação e mudanças de hábitos. É aconselhável que faça acompanhamento com vários profissionais da área da saúde para que cada um auxilie da melhor forma possível naquilo que lhe for correspondente.

Ter uma vida saudável não se resume a comer alimentos saudáveis, é estar em dia com a mente, com as emoções, estar em equilíbrio em todos os aspectos da vida! Uma mente equilibrada é capaz de resolver qualquer tipo de problema sem deixar que isso traga um sofrimento muito grande. Os sofrimentos gerados por situações diversas também são pontos de desequilíbrio, causando tensão e a compulsão em comer. Mas como foi dito, tudo se assenta na integração da pessoa consigo mesma, que a faz capaz de perceber o mundo de forma diferente, mantendo coração e mente em harmonia para passar pelas adversidades da vida e mantendo o controle sobre o seu corpo, seus impulsos e sua mente.

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