Desde ontem (dia 3) as redes sociais estão agitadas por conta da revelação de um vídeo no qual um adolescente negro é chicoteado nas dependências do supermercado Ricoy, na região sul de São Paulo. A tarefa coube a seguranças do estabelecimento comercial. Qual foi o crime do jovem de 17 anos, que mora na rua? Furtar chocolates.
O adolescente negro e pobre foi torturado pelos seguranças Santos e Neto, pobres – talvez negros ou pardos. O educador Paulo Freire continua mais vivo do que nunca. Ele dizia que se a educação não é transformadora, o sonho do oprimido é se tornar opressor. Os seguranças do supermercado nem enriqueceram e assumiram – ainda na condição de oprimido – a tarefa de oprimir.
Há quem argumente que os seguranças apenas cumpriam ordens. Ao despir o adolescente que mora na rua e chicoteá-lo não cumpriram apenas as ordens. Fizeram isso com gosto, espancaram porque concordam com tal medida, torturaram porque sentem prazer na tortura. O capitão do mato que habita nesses seguranças deleita-se ao chicotear o adolescente negro.
O pior é que esse não é um caso isolado. Justiceiros – santos e netos – são comuns Brasil afora porque o patrimônio é mais importante que a vida. Alguns exemplos? Textos que produzi para o blog Letras Crônicas, que abordam esse tipo de violência: “Escândalo Brasil”, “O Brasil no poste”, “Perversidade. Vingança. Sadismo.” e “A sua parte no linchamento”.
O Brasil é racista e odeia pobre. A tortura, o linchamento e o justiçamento – infelizmente – são confundidos com justiça. É para casos assim que agem os direitos humanos. E quem deve implementar políticas de combate à tortura é o estado.
Mas qual é mesmo a perspectiva de o estado brasileiro fazer isso, quando o próprio presidente da República homenageia torturador como Ustra e faz apologia à violência? O futuro do Brasil não é promissor, mas ainda dá tempo de refletirmos sobre o projeto de país que estamos construindo.