“Pra não dizer que não falei das flores – Resistência ao fascismo e seus representantes” dá nome ao debate organizado pelo coletivo Mobiliza Londrina, na noite de ontem (25), na sede do Movimento dos Artistas de Rua de Londrina (MARL), localizada na Avenida Duque de Caxias 3241. O evento teve a participação de dezenas de pessoas, que puderam debater a cultura afro-brasileira, o movimento LGBT, a ditadura civil-militar e o feminismo.

A mesa foi composta por Elza Correia, professora de História, que já foi deputada estadual e também vereadora em Londrina-PR; por Melissa Campus, que é atriz, produtora cultural e representante da Associação Nacional de Travestis e Transexuais (ANTRA); e por Teresa Mendes, militante do movimento social negro e presidenta do Movimento Artesanato é Cultura (MACUL).

Elza Correia iniciou o debate falando sobre a ditadura militar. Ela criticou o discurso corrente que clama pela intervenção do exército, como aconteceu em 1964. Para Elza, esse discurso ajudou a afundar o Brasil num período de profunda crise. A ex-deputada ainda teceu duras críticas à Rede Globo. Na visão dela, “a rede alimenta o conflito entre a consciência ingênua e a consciência crítica, e está alinhada com esse sistema político que não representa as classes trabalhadoras e as minorias oprimidas”.

Um passo importante a ser dado para que haja mudança nesse cenário de crise, de acordo com Elza Correia, é a supressão desse sistema político que representa, atualmente, os “grandes monopólios de grupos estrangeiros. O capitalismo em sua nova versão, de uma república rentista. Esse sistema está a serviço e a favor desses setores dominantes”.

Melissa Campus discorreu sobre a violência contra a população travesti e transexual. Ela informou que dados da Associação Nacional da Travestis e Transexuais revelam que, do início do ano até a data de ontem (25), 62 travestis foram assassinadas com requintes de crueldade no Brasil. Para Campus, o que acontece frequentemente com as vítimas fatais de violência é uma espécie de “segunda morte”: nas delegacias, elas não são registradas pelo nome social. A prática prejudica a geração de estatística e acaba por prejudicar a luta contra essas barbáries.

Questionada sobre o que pode ser a raiz da discriminação, Campus explica que “o preconceito é parte de um aprendizado cultural. Ninguém nasce sendo preconceituoso, mas você aprende o preconceito socialmente. É uma questão de falta de informações com relação à nossa população. E é por isso que defendemos na base curricular e nas grades de ensino que se fale da diversidade de gênero, de diversidade étnico-racial, de diversidade sexual”.

Em poucas palavras, Melissa Campus falou sobre o que espera daquelas pessoas que arraigam os preconceitos. “Dignidade humana. Qual é a estética da sua existência? O que define alguém mais humano que o outro? A dignidade humana proporciona o respeito mútuo a todas as diferenças. Quando você entende que aquela pessoa que é diferente também é humana, você consegue respeitar por causa da empatia.”

A história do Brasil ainda foi um dos temas debatidos no evento. Teresa Mendes explicou que “o crescimento do país foi impulsionado pelo trabalho escravo e o roubo das terras indígenas”, o que se reflete no genocídio da população negra das periferias. Teresa Mendes criticou a atuação dos últimos presidentes, que, para ela, abandonaram as camadas populares.

Nos últimos dias, o movimento por “Diretas já!” tem ganhado força, juntamente com o “Fora, Temer!”, por conta da crise política pela qual passa o governo Michel Temer (PMDB). O Presidente da República responde a inquérito aberto pelo Supremo Tribunal Federal, por corrupção passiva, organização criminosa e obstrução à Justiça. A Procuradoria Geral da República usa como base os áudios gravados por Joesley Batista, dono da JBS, em conversa com o presidente.

Na análise de Elza Correia, várias pessoas que foram às ruas pelo impeachment da ex-presidenta Dilma Rousseff (PT) são as mesmas que hoje levantam a bandeira contra Temer. Para ela, é preciso “compreender o que está acontecendo, nos empoderarmos de que o Brasil também é nosso. Nos informamos, nos organizarmos. Ocuparmos as ruas de forma organizada. Para a gente poder detonar esse processo revolucionário de transformação. O Brasil também é nosso. Temos um parlamento totalmente falido. 370 parlamentares sendo investigados. O congresso não tem legitimidade para ditar os caminhos que a população deve seguir. Não adianta ir para a rua pedir ‘Fora, Temer’, tem que mudar o sistema político”.

O debate foi promovido no dia em que o Deputado Federal Jair Messias Bolsonaro (PSC-RJ) esteve em Londrina, acompanhado de uma comitiva, para cumprir agenda política.

Texto e fotos: Bruno Amaral – Jornalismo Periférico

 

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